Apontamentos sobre a relação Brasil-França.
Um breve estudo sobre as relações francobrasileiras e suas possíveis implicações para 2026.
Resumo: nesse post discutiremos a relação entre a França e o Brasil. Esse artigo tem como ênfase, em um primeiro momento, os pontos de convergência entre Brasil e França para que no final do artigo possamos especular sobre uma possível saída da esquerda brasileira a lá francesa.
(Nota importante: Eu não gosto da França. Contudo, o objeto desse artigo não é ser ou não afetuoso com os franceses. O objetivo principal desse artigo é fazer uma análise menos enviesada e mais fria possível, sobre as relações entre o Brasil e a França, dando ênfase na influência francesa no Brasil e como isso pode ser capitalizado pela esquerda nacional contra a direita.)
Brasil: os neto de Napoleão?
Começando pelo óbvio: é bastante claro que o Brasil não seria o que é hoje se não fosse a França. Em específico se não fosse Napoleão tentar invadir Portugal. A vinda da família real portuguesa em 1808 foi, em nossa análise, o principal fator causal que levou o Brasil a ter estruturas centralizadoras que foram fundamentais para impedir, com sucesso, os movimentos separatistas. Movimentos esses que, se tivessem sido bem sucedidos, implicariam em uma américa portuguesa dividida, assim como foi com a américa espanhola.
O fato da américa latina não ter um mapa similar ao mapa da África, todo fragmentado, se deve diretamente à vinda da família real portuguesa e, eles só vieram por conta de Napoleão. Se os portugueses são os pais do Brasil, é possível talvez afirmar sem exageros que Napoleão seja o nosso avô, um avô agressivo e perigoso, mas um avô.
Especificamente falando de Napoleão, existe uma ligação bastante interessante e pouco conhecida entre ele e o Brasil. Dom Pedro I era casado com a princesa Maria Leopoldina, da Áustria. A princesa Maria Leopoldina, por sua vez, tinha uma irmã chamada Maria Luísa que foi casada com Napoleão. Ou seja, Maria Leopoldina era cunhada de Napoleão.
A ligação entre Brasil e França não termina aí, existem inúmeras figuras históricas significativas que vieram da França e que tiveram um papel muito importa na história como, por exemplo, o Conde d’Eu, responsável por encerrar a agressão paraguaia contra o Brasil iniciada em 1864, por Solano Lopez.
A influência cultural e intelectual francesa no Brasil
A influência francesa não se limita à política, com Napoleão e o Conde d’Eu. Ela se manifesta também intelectualmente através de uma quantia muito grande de intelectuais. Augusto Comte, o intelectual positivista por trás de muito do que foi feito na era Vargas era também francês. Além dele tem-se a grande influência francesa na filosofia brasileira através da USP.
A lista de intelectuais franceses que influenciaram o Brasil e que, em muitos casos, viveram no Brasil é grande: Claude Lévi-Strauss, Roger Bastide, Fernand Braudel, Pierre Bourdieu, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Alain Badiou, Jean-Paul Charles Aymard Sartre, Paul-Michel Foucault e até mesmo Jean Baudrillard, pai do hyperrealismo pós moderno. A influência intelectual francesa no Brasil é muito maior do que a influência de qualquer outro país do mundo. Mais até que dos Estados Unidos. Inclusive quando o regime militar brasileiro foi implementado em 1964 muitos intelectuais brasileiros fugiram para a França, pois já tinham muitos contatos e já eram muito bem vistos lá.
A influência do continentalismo francês (em oposição à filosofia analítica) é algo muito grande. Particularmente eu não gosto do continentalismo francês e nem da filosofia analítica americana. O continentalismo/idealismo alemão é algo muito mais intelectualmente superior do que o francês. Contudo, esse não é o assunto principal do artigo.
A influência econômica francesa no Brasil.
Existe uma influência bastante grande da França na economia do Brasil no quesito investimentos. A França é um dos principais países que investem dinheiro no Brasil. A parceria de investimento Brasil-França gera um jogo de soma positivo para ambos os países e resulta em muito dinheiro e emprego para os dois lados. Contudo, a França tem ressalvas ao Brasil com relação ao agro pois eles não são tão competitivos quanto o Brasil e, todos sabemos que, quando um país desenvolvido não é competitivo ele impõe barreiras protecionistas contra produtos que o ameaçam.
Mas você, brasileiro médio de QI 83, que nasceu tomando água com coliformes fecais, que foi educado pelo movimento escola novista, que tem a mente acelerada por grandes corporações de tecnologia controladas por bilionários transhumanistas com complexo de Deus, você acredita no livre mercado.
Existe uma outra influência financeira que seria importante citar, uma influência de uma família de banqueiros (do escudo vermelho), mas se essa família for citada, no vídeo desse artigo aparecerá um disclaimer, das big techs, dizendo quão boa é essa família e como eles são uns coitadinhos que nunca fizeram nada de errado, injustiçados com teorias da conspiração e discurso de ódio. Para evitar esse tipo de inconveniência deixaremos essa família de lado.
A influência militar francesa no Brasil.
A França tem também uma grande influência no militarismo brasileiro. Não só pela questão envolvendo o Conde d’Eu mas a doutrina militar brasileira tem bastante influência francesa, e isso inclui também a parte dos aparelhos tecnológicos militares. O Brasil usava no passado o caça francês Mirage 2000 e no atual momento histórico usa submarinos scorpène do Naval Group, uma empresa público-privada francesa. Esses submarinos scorpene (renomeados no Brasil de classe Riachuelo) servem de base para o programa de submarinos de propulsão nuclear brasileiro. A França, obviamente, não vendeu tecnologia de propulsão nuclear ao Brasil mas vendeu o submarino que usará o reator nuclear brasileiro.
Ainda que exista bastante desinformação russa no Brasil, para fazer as pessoas acreditarem que a França não é uma potência militar, ela é sim. A França é uma grande força militar tendo inclusive bastante experiência em combates reais na Legião Estrangeira (desde 1831) passando por múltiplas guerras como as guerras Napoleônicas e duas guerras mundiais. As forças armadas francesas são certamente a maior força militar da Europa e uma das maiores do mundo tendo inclusive domínio total da tecnologia de armas nucleares de ponta a ponta.
A Europa é a salvação da esquerda brasileira?
Há alguns posts atrás apontamos a possibilidade/tendência do colapso da esquerda nacional e, essa tendência tem se acentuado nos últimos meses. O governo da alma mais honesta da história da humanidade está entrando em colapso, falhando em praticamente todas as áreas e, tudo leva a crer que não será possível vencer as eleições de 2026.
Contudo, recentemente o aceleracionalista da desglobalização, Donald Trump, puxou o tapete de Volodymyr Zelenskyy, o presidente da Ucrânia. Isso acabou gerando uma revolta na Europa e fez com que surgisse a necessidade de um “novo líder do mundo livre”. Líder esse aparenta ser a França de Emmanuel Macron.
Em uma recente visita ao Brasil, Macron afirmou que deseja que nem o Brasil e nem a Europa sejam colônias tanto dos EUA quanto da China. Isso nos leva a pensar sobre a seguinte questão: seria possível para a esquerda nacional sobreviver através de uma aliança entre Brasil e Europa construída pela França?
Parágrafo propositalmente obscuro:
A queda de popularidade de Lula parece levar a uma derrota no processo eleitoral de 2026. Isso implica na necessidade de Lula fazer o que foi feito em 2022 para ser declarado vencedor em 2026. Contudo, o que foi feito em 2022 foi feito com o auxílio e apoio da américa de Joe Biden. Em 2026 Lula não terá esse apoio americano (provavelmente) para fazer o que precisa ser feito para ser declarado vencedor. Nesse caso, será necessário o apoio europeu para reconhecer o resultado das eleições de 2026 e é precisamente aí que entra a relação Lula-Macron. Se Lula conseguir costurar muito bem o acordo e apoio internacional europeu pode ser possível que ele seja declarado vencedor em 2026. Pode ele fazer essa articulação? Ninguém sabe, mas a França pode ser um bom bote salva vidas para a esquerda nacional.
Dia 18/02/2025 (mês passado) Lula ligou para Macron e foi convidado para uma visita oficial de estado na França segundo fontes oficiais brasileiras1. Oficialmente a visita será sobre acordos ecológicos (COP30) e o conflito da Ucrânia. Mas, penso eu, que essa visita será sobre costurar apoio para fazer o que precisará ser feito em 2026.
Ademais, tanto a Europa quanto o Brasil necessitam aumentar as ferramentas de controle informacional para não virarem refém da tecnocracia americana. Nesse sentido o Brasil e a Europa podem trabalhar juntos para se apoiarem nessa pauta comum de censurar o povo. Uma das principais coisas que o governo do PT precisa fazer para se perpetuar no poder é controlar os fluxos de informação na infosfera brasileira e isso precisará ser feito através de regulações do supremo. Se o Brasil tiver apoio Europeu com relação a essa questão tudo fica mais fácil. De um mesmo modo, se o Brasil passar as regulações aqui fica mais fácil para as elites Europeias passarem as regulações lá também. É um jogo de ganha ganha.
Isso leva a um cenário interessante e malévolo de cooperação Brasil-Europa contra a “ameaça fascista”.
Contra medidas e atores nacionais.
Nesse capítulo discutiremos a posição do nacionalismo melancia e da direita brasileira diante desse cenário de uma articulação Brasil/França.
Começando pela bolha nacionalista melancia. Os nacionalistas melancia odeiam a França, a Europa e tudo que é conhecido como “o ocidente”. Eles querem um alinhamento do Brasil com a Rússia e a China. Infelizmente para eles isso não irá acontecer, essa possibilidade não existe. Principalmente agora que a Europa está contra a Rússia/China. Entre a Rússia/China e a Europa o Brasil de Lula irá escolher a Europa. Isso é ruim para os nacionalistas melancias.
Contudo, os nacionalistas melancias são muito previsíveis e, caso o Lula feche com a Europa eles irão apoiar o Lulismo globalista europeu SE isso implicar em um afastamento do Brasil com os Estados Unidos. Em outras palavras: eles querem Rússia e China, mas se isso não for possível, eles escolherão sempre a opção mais antiamericana possível. Isso porque eles estão comprometidos ideologicamente contra os EUA pois apoiam e compactuam da ideologia russa duginista.
Já a direita brasileira está agindo conforme o esperado, ou seja, está deitada eternamente em berço esplêndido. A direita não possui bons analistas de geopolítica e estratégia. A grande maioria da direita nacional só faz Ctrl C/Ctrl V de canais americanos e, como os americanos não estão estudando o Brasil com esse nível de profundidade logo a direita brasileira é incapaz de ver essa articulação de Lula com a Europa para 2026 através do Macron. Quando eles verem já estará em cima da hora e não haverá o que fazer.
O que poderia ser feito agora pela direita agora é buscar apoio norte americano para garantir que não seja possível fazer em 2026 o que foi feito em 2022. Junto a isso deveria ser feito um acordo com as elites internas do Brasil em prol de Bolsonaro mas boa parte da direita acredita que fazer política é não fazer acordos, que fazer política é só ter votos. Eis aí o problema do pensamento populista de fim da história que a direita brasileira tem. Mas não sejamos repetitivos pois já falamos várias vezes sobre esse assunto.
Mas já sendo repetitivos, uma coisa que dissemos antes é que a eleição é uma consequência da obtenção de poder e não o contrário. No seguinte sentido: você adquire poder e ganha a eleição e não ganha a eleição para adquirir poder. O processo eleitoral de 2026 pode estar sendo construído pela esquerda nacional com a ajuda da Europa enquanto que a direita está tentando construir o processo de 2026 com o apoio dos americanos. Quem será que terá a melhor articulação? O lulismo globalista liberal europeu ou o bolsonarismo tecnocesarista americano?
Um futuro agora incerto…
Há alguns meses atrás eu não acreditava na possibilidade do lulismo vencer em 2026. Hoje eu acredito que a possibilidade existe e vejo que eles estão trabalhando para isso. Eu não consigo ver a Europa apoiando Bolsonaro a não ser que algo muito estranho aconteça na Europa (Lepen). Uma coisa que eu fico pensando: precisava xingar a mulher do Macron? Foi engraçado? Foi. Mas precisava fazer isso? Não.
A união europeia está prestes a puxar o tapete de Bolsonaro junto com o PT e o mais surpreendente é que ninguém da direita viu ainda sobre essa possibilidade. Penso que se a direita perder é porque no fundo ela mereceu perder. No mundo atual maquiavelista ganha não quem é o certo, mas sim quem tem mais virtú e virtú falta muito na direita. Inclusive pelo fato de que a grande maioria dos intelectuais de direita são papagaios do Olavismo, que detestava Maquiavel e, por isso, nenhum deles leu.
As vezes penso que posso estar exagerando, que pode ser que a derrota da esquerda nacional seja inevitável, pode ser que eu esteja vendo coisas mas o problema é que justamente esse é o meu trabalho como filósofo, ver as coisas antes de todo mundo. Maquiavel, no livro O príncipe (no capítulo 18) via os líderes através da figura de animais, como leões, lobos e raposas. O animal que representa o filósofo, contudo, não é nenhum desses, penso que o animal que mais bem representa o filósofo é a coruja, um animal que observa todas as direções em múltiplos ângulos e vê coisas que os outros animais não veem pois estão dormindo.
É difícil ver durante a escuridão da noite, pode ser que eu esteja vendo uma ameaça onde não exista. Pode ser que seja somente um galho de uma árvore se mexendo com o vento de uma quente noite de verão. Mas de qualquer modo, é sempre bom ficar atento e dar o alerta. Hoje eu vejo uma possibilidade da volta da esquerda em 2026 que eu não via antes.
https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2025/02/lula-conversa-por-telefone-com-o-presidente-da-republica-francesa-emmanuel-macron
Se ocorrer uma Weimar lulista, quem será o avatar a trazer nosso reinado de mil anos?
Eu penso que nosso futuro chefe solar deve ser gaúcho, estudar no ITA e ler Mário Ferreira dos Santos.
Salve Homero, essa é, de fato, uma analise que eu não tinha cogitado ainda, haja visto que já faz um bom tempo que a Fraça, e a Europa ocidental como um todo, tem sido só mais um país que segue a agenda das elites americanas - será essa a uma tentativa das elites europeias amigas das elites do partido democráta americano de ter uma sobrevida, considerando que as elites Trump-Musk estão partindo para a ofensiva e fazendo o aparelhamento total dos postos de poder ocidental pouco a pouco?
Essa situação me lembro de você já ter comentado em algum vídeo, o mundo liberal de fim da história só conseguiu se manter por tanto tempo com os fluxos de informações bem controlados e que, ao mesmo tempo, dessem a impressão de que são isentos, então as suas elites restantes tentarão ao máximo manter o seu modelo. Apesar disso, uma vez que o controle informacional existe, ele também será usado pelos EUA, mas de formas diferentes: A Europa e o Brasil estão querendo censurar e canetar o que pode e o que não pode aparecee, enquanto os EUA controlam efetivamente os algoritmos responsáveis por impulsionar os conteúdos - acha que essa diferença de abordagem pode resultar em alguma coisa ou vai dar na mesma para ambos?
Nesse sentido, uma vez que as big techs são dos Estados Unidos, a solução mais comum para se pensar em como fugir desse mecanismo de controle seria desenvolver as nossas próprias redes sociais-mecanismos de mídia (InstagramBrás, GoogleBrás e etc), mas eu vejo isso como impossível de ser feito, tanto pela Europa quanto pelo pobre Lindil - A menos que isso fosse imposto de forma bastante autoritária, eu não vejo como o ocidente pode abandonar esses meios "tradicionais" de rede social, vejo como um coping nacionalista("Basta querer irmão"). O que você acha disso? Como você mesmo disse, é impossível não haver controle, mas daria para trocar quem controla?
A respeito dos melancias, chega a ser engraçado, eles estão tratando como se só agora estivesse havendo uma manipulação dos algoritmos(Eles já defendiam censura antes, mas pensavam que não estavam sob influência de mecanismos das próprias redes sociais, creio eu) - haja vista que só agora eles estão pensando em "como escapar do autoritarismo digital de Trump e Musk"
Apesar disso tudo, eu tendo a crer que o Brasil está totalmente dominado pelos Yankees e não teria como tentar peitar eles, mesmo fazendo uma aliança com a França/Europa - será que o Lula teria coragem de ele mesmo se declarar vencedor em 2026? Mesmo se ele conseguisse, seja sozinho ou com apoio de terceiros, o atributo dele de governabilidade já está bastante prejudicado, um segundo mandado poderia ser catastrófico nesses termos. Mas não podemos ter certeza enquanto a situação da oposição for incerta.
Por fim, a coruja é uma boa representação para o filósofo, já que representa a sabedoria,conhecimento etc - talvez nesse caso, para ficar mais adequado ao sentido próprio da palavra, o filósofo é aquele que gosta de observar para aonde a coruja está olhando/apontando.
Bom texto Homero, valeu pela dose semanal de educação.