Quando o gado é o pecuarista europeu.
Sobre como o produtor rural europeu está sendo instrumentalizado para fortalecer o sistema que ele mesmo odeia.
Recentemente ocorreram na Europa manifestações de agricultores, aparentemente contra o governo.
Muitos agricultores, em especial na França, saíram às ruas com seus tratores para protestar contra principalmente duas pautas. São elas:
As medidas ESG (Environmental, Social and corporate Governance) com relação à produção de alimentos e,
O acordo comercial com o Mercosul.
A primeira pauta ressalta um ponto por nós levantado já fazem alguns anos: a preservação do meio ambiente e o respeito aos direitos humanos podem levar a uma redução da eficiência econômica de um país. A grande verdade é que os direitos humanos e o respeito ao meio ambiente encarecem os produtos porque se tornam um peso no que diz respeito aos custos de produção.
Um setor produtivo que se use, por exemplo, de energia limpa em seus processos produtivos tende a perder em uma livre competição contra um setor de um país rival que use energia suja, pois a energia suja é mais barata e, assim, é possível para o país poluidor baixar ainda mais o preço do produto e ganhar mercados dos produtos que preservam o meio ambiente.
A China, por exemplo, se desenvolveu e ganha mercados justamente desse modo.
No caso dos agricultores europeus o aumento do preço do Diesel, que é um combustível mais poluente, leva a um grande encarecimento dos preços dos produtos, reduzindo a competitividade e deixando a vida do consumidor e do produtor cada vez mais difícil. Tudo isso é feito em nome da agenda ambiental.
O segundo ponto de protestos é, conforme já apontamos, o Mercosul.
A grande verdade é que não são somente os impostos ESG que deixam os produtos europeus mais caros. Eles pioram sim a situação mas, mesmo que eles não existissem ainda assim os produtos agrícolas europeus não seriam tão competitivos quanto os produtos do Mercosul por causa do fenômeno da sorte e azar geográfico.
O Brasil deu sorte de estar localizado no melhor lugar do mundo para produzir alimentos e a Europa deu azar de estar em um dos piores. Não há mérito nenhum disso, é sorte e azar. O que estamos querendo dizer é que não é possível para o europeu por causa do azar geográfico, mesmo sem a agenda ESG, competir com o brasileiro. E, aqui cabe mostrar uma pequena e inconveniente verdade ao leitor libertário:
No que diz respeito a geopolítica, o livre mercado é uma grande mentira contada da porta para fora de países desenvolvidos, uma ideologia de exportação. Você prega que os países de fora do seu abram a fronteira para os seus produtos e, dentro do seu país você levanta barreiras para proteger sua economia interna.
É justamente isso que a Europa está fazendo contra o Brasil. Eles não querem competir com Brasil em um jogo onde eles não podem ganhar então, eles estão levantando da mesa e se retirando do jogo. O europeu só permanece no jogo enquanto ele pode ganhar.
Esse nosso discurso não deve claro, ser encarado como um ode ao protecionismo e tão pouco um movimento de ódio ao europeu, muito pelo contrário. O protecionismo em excesso é ruim e gostamos muito do europeu. Em especial do português e do italiano. Só o que estamos querendo mostrar ao brasileiro é que assim é o mundo.
O mundo sempre foi assim ao longo da história, é assim até hoje e não há razão para crer que será diferente no futuro. A não ser claro, que o leitor acredite no paraíso do anarcocapitalismo onde não existirão mais estados e todos os mercados do mundo competirão livremente. Infelizmente, ainda que essa ideia soe como algo bom e rasoável ao libertário autista com hiperfoco em escola austríaca, isso não vai acontecer guri, sinto muito.
Mas, existe um outro aspecto muito importante, que foi o que motivou esse artigo. Esse tipo de crítica do produtor europeu sempre existiu, já não é de hoje que o produtor europeu protesta e chora contra o Brasil mas, porque só agora os pedidos dos agricultores europeus são atendidos? Porque agora e não antes?
Teria o governo europeu perdido o controle sobre seu próprio povo a ponto de não conseguir abafar essa manifestação mais uma vez? Seria o fim de uma era de oligarquias europeias e o início de um governo europeu realmente popular voluntarista? Acreditamos que não, temos outra teoria, uma teoria que começa com um cidadão russo-americano chamado Lex Friedman.
Lex Friedman é um não católico que surgiu do nada e em questão de menos de alguns meses explodiu como um grande apresentador de podcasts onde ele costuma entrevistar não católicos sobre os mais diversos assuntos. Nós temos uma teoria de que na verdade o podcast do Lex Friedman é um podcast impulsionado por mecanismos de guerra de quinta geração1 com o objetivo de conduzir o debate público para a defesa de pautas que interessem aqueles que controlam as infosferas2 do mundo ocidental.
Não que ele seja necessariamente um agente do serviço de inteligência americana mas, a eles ele é bastante útil. Nós vivemos em uma era onde é possível trabalhar para o sistema (e ser muito bem pago em adsense) sem precisar sequer saber que trabalha para ele. Tem-se aí o melhor agente secreto de todos: o agente tão secreto mas tão secreto que nem ele sabe que é um agente mas que, cumpre integralmente todas as funções de um.
A mesma coisa que pensamos sobre o podcaster Lex Friedman é o que pensamos, por exemplo, do youtuber brasileiro Ricardo Albuquerque, conhecido no Youtube como Ancapsu. Talvez esse seria o real motivo pelo seu enfático posicionamento no conflito ucraniano. Ele entende, provavelmente, que inforgs pró ucrânia são favorecidos e premiados pelos algoritmos controlados pela inteligência americana.
Já de algum tempo temos bem claro em nosso entendimento de que não é mais possível ser muito grande, em termos de visualizações na internet, sem ter o apoio dos serviços de inteligência que controlam toda a infosfera ocidental. Mas o que isso tem a ver com a Europa?
Vamos a um questionamento.
E se os donos do mundo ocidental decidiram que não deve ser feito um acordo comercial da UE com o Mercosul? Talvez tenham eles com relação ao agro brasileiro a mesma preocupação que eles tinham com o gás russo. Aliás, essa é uma outra coisa sobre a globalização e o livre mercado.
Comumente se atribui a Frédéric Bastiat a frase de que “onde entram mercadorias não entram armas”. É uma frase usada para enaltecer o livre mercado como uma ferramenta pacificadora. Na verdade a frase dele não é bem essa é outra3 mas, a ideia principal é o que importa: se você tiver trocas comerciais é diminuído a chance de guerras.
Sim, é verdade. Contudo, as trocas comerciais, que se prometiam acabar com as guerras, geram uma relação de interdependência e submissão de um país com relação ao outro que, se visto de uma perspectiva de guerra de quinta geração é também uma forma de guerra, no caso de guerra econômica. Essa relação de dependência, segundo nossa análise, foi o que gerou o atual conflito na Ucrânia.
Talvez fosse esse o principal objetivo, acabar com essa relação de dependência da Europa com a Rússia. Nesse caso, onde entraram mercadorias se criou uma relação de dependência econômica ruim que só pode ser terminada com uma guerra. Nem nesse ponto Bastiat acertou. Onde entram mercadorias cria-se um cenário onde no futuro será necessário entrar armas.
Mas sigamos.
E se essa mesma mentalidade estiver sendo aplicada contra o Mercosul? E se os setores de inteligência que controlam o mundo ocidental decidiram que o acordo Mercosul/Europa não deve sair do papel para não formar um novo problema semelhante ao problema nordstream? Dessa vez um nordstream não de gás mas sim de alimentos.
Não seria fácil para os donos do sistema manipularem a infosfera europeia para gerar uma grande manifestação em favor da agenda que eles desejam que a população defenda? A agenda que eles defendem é clara: o fim do acordo da UE com o Mercosul.
Pensemos quem ganha e quem perde.
Nesse caso, a direita populista europeia sairá se sentindo vitoriosa. As pessoas mais uma vez acreditarão no poder das manifestações, que é possível mudar as coisas. Emmanuel Macron e os demais líderes europeus também ganharão pois terão mais popularidade e legitimidade ao ter respondido aos anseios supostamente populares. O produtor europeu será protegido e, o povo não se importará tanto em pagar mais caro nos produtos, uma vez que é para garantir os agricultores locais.
Quem perde, é claro, é o Mercosul. Em especial o Brasil. Nós.
No Brasil a atual esquerda é contra o agronegócio e, por isso, ninguém desse lado vai reclamar de nada quando o agronegócio vai mal. Do lado da direita até existe pessoas a favor do agronegócio mas, não é habitual para a direita brasileira se levantar contra a união europeia devido a mentalidade alienada que a direita liberal conservadora tem pró ocidente, não importa a circunstância. Em termos cultuais, nem a direita e nem a esquerda brasileira irá reclamar. Só quem irá reclamar é o povo do Brasil, que ficará mais pobre. Contudo, infelizmente vemos que nem a esquerda e nem a direita atual brasileira se importa com o povo.
Mas voltando, existe em nosso entendimento uma tendência informacional de que, daqui em diante, todas as manifestações significativas chamadas na infosfera só serão significativas se for do interesse de quem as controla. Tudo leva a crer que na verdade os protestos europeus não é o povo se rebelando contra o sistema mas sim o povo endossando o que o sistema deseja e permite. Isso explica porque só agora os protestos estão fazendo efeito, porque o sistema deseja que eles façam efeito agora, porque é a agenda que eles desejam para a Europa e, o povo europeu está sendo manipulado e usado como gado.
Talvez estejamos voltando aos velhos tempos? Os velhos tempos no caso são os tempos onde a palavra do povo só é ouvida quando os interesses das oligarquias convergem com os interesses do povo. Estaria a humanidade voltando a organização top-down tradicional? Só o tempo irá dizer.
Parece um absurdo pensar assim? Vamos a outro exemplo. Pense nos protestos franceses contra a reforma da previdência. Foram protestos tão ou maiores do que esses dos agricultores mas, não surtiram efeito. E não surtiu por quê? Porque não era interesse da elite europeia que os protestos contra a reforma da previdência dessem em alguma coisa. Foi empurrado goela abaixo do europeu mais e mais anos de trabalho, apesar de todos os protestos.
O que o Mercosul e seu líder (Brasil) deveria fazer? O Brasil deveria exigir no mínimo algum tipo de reparação, por ter ficado esperando quase 30 anos por um acordo que não irá sair. Mas essa reparação irá acontecer? Bom, a julgar pelas pessoas que comandam o país não. Nesse exato momento, por exemplo, o atual presidente do Brasil, ao invés de se preocupar com o acordo UE/Mercosul, achou por bem, de mais importância, ir para a África prometer o dinheiro dos brasileiros para os africanos como reparação história e, também de brinde, resolveu chamar o estado de Israel de genocida.
Esses dois eventos, por si só, são uma clara demonstração de que o presidente do Brasil não se importa mais com o Brasil do que se importa com a defesa de sua ideologia pessoal. Ademais, com relação a Israel, além de ser a declaração mais burra que já presenciamos em termos geopolíticos brasileiros nos últimos anos é, também uma clara demonstração de que Lula e os cabeças PT não entendem quem são os reais dono da ordem liberal e quem os colocou novamente no poder. Mas isso é assunto talvez para outro episódio.
5GW é um termo cunhado pela primeira vez por Robert Steele (CIA) onde a guerra é vista como uma luta em um campo de batalha onipresente que não necessariamente significa conflito de atrito físico. Esse conceito na China recebe o nome de Guerra Irrestrita (1999) e na Rússia recebe o nome de Guerra Híbrida (2018). O mesmo fenômeno com múltiplos nomes.
Infosfera é um termo criado nos anos 70 por Kenneth E. Boulding e mais tarde nos anos 90 bastante usado pelo filósofo Italiano Luciano Floridi que designa um ambiente informacional amplo populado por organismos informacionais (inforgs) que cobre todas as áreas onde existem informações. O termo Infosphere vem da união das palavras information sphre e é inspirado no termo biosphere, a esfera da vida.
Na verdade essa é uma expressão de origem apócrifa onde é dito que: “When goods don’t cross borders, Soldiers will" (Quando bens/mercadorias não atravessam fronteiras, soldados atravessarão).
Homero bate em vários tentáculos do sistema num único texto, com perfeita coesão entre os pontos.
A escolha do tema foi uma excelente oportunidade de tocar em todos esses assuntos, com destaque para a manipulação da internet, de que voce fala muitas vezes, além de apresentar falhas no pensamento libertário e liberal.
O destaque para as posturas, tanto da direita quanto da esquerda, diante da situação apresentada, também é digno de nota.
Se você quiser um corretor ortográfico, pode falar comigo.
Abraço.
Lex Fridman, sempre suspeitei desse sujeito. O cara explodiu de forma muito rápida no Youtube. É plausível considerar que essa figura seja mais uma marionete, utilizada para sutilmente apresentar os interesses da infosfera ao público ocidental. Em relação ao gordão Ucrânia, sugiro que você assista o corte no podcast do Monark e o Ancapcu falando sobre as influências da blackrock. Vc vai rir pra caramba com o Monark não tankando o gordão. Abraço Homero!!